Em um cenário de custos de energia cada vez mais relevantes para a competitividade de empresas de médio e grande porte, saber dimensionar corretamente a demanda contratada deixou de ser detalhe burocrático e virou fator estratégico.
Quem opera em média ou alta tensão como indústrias, galpões, grandes comércios e hospitais, faz parte do chamado Grupo A e precisa lidar com uma parte fixa da fatura de energia que pode representar quase metade da conta no final do mês.
Se mal planejada, essa contratação gera desperdício ou multa por ultrapassagem, mas quando bem feita, abre caminho para economizar de forma consistente e sem grandes investimentos.
Neste conteúdo, vamos mostrar de forma prática o que é a demanda contratada, quem faz parte do Grupo A, por que a otimização é tão importante nesse perfil e como aplicar as melhores práticas para reduzir custos e aumentar eficiência.
O que é a demanda contratada?
Na conta de energia elétrica de uma empresa ou indústria, principalmente no mercado cativo, existe um componente chamado demanda contratada.
É a quantidade de potência (medida em kW) que a empresa reserva junto à distribuidora para garantir que terá energia suficiente para atender todos os seus equipamentos funcionando ao mesmo tempo, caso precise.
Em outras palavras: é como reservar uma faixa máxima de uso de energia, mesmo que nem sempre se use tudo isso.
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O que é o grupo A?
No setor elétrico brasileiro, os consumidores são classificados em grupos tarifários, de acordo com a tensão em que recebem energia da distribuidora. O Grupo A reúne consumidores que são atendidos em média tensão (normalmente entre 2,3 kV e 69 kV) ou alta tensão (acima de 69 kV).
Esse grupo é formado basicamente por:
- Indústrias
- Grandes comércios (shopping centers, supermercados grandes)
- Hospitais de grande porte
- Centros de distribuição ou galpões logísticos
- Universidades e prédios públicos de grande demanda
Por que isso existe?
Porque atender consumidores em média ou alta tensão exige infraestrutura diferenciada. Além disso, esses consumidores têm consumo de energia muito mais expressivo, então eles:
- Têm tarifas específicas que separam consumo de energia (kWh) e demanda contratada (kW)
- Podem optar por tarifas horárias (ponta e fora de ponta)
- Têm obrigações como manter fator de potência adequado (senão pagam multa)
E o Grupo B?
Já o Grupo B são os consumidores de baixa tensão, como residências, pequenos comércios, salões de bairro, padarias, etc. Esses não têm demanda contratada. Pagam apenas pela energia consumida em kWh e por taxas fixas.
Por que a otimização de demanda é tão importante para o grupo A?
No Grupo A, o custo com demanda contratada costuma representar 20% a 50% da fatura de energia, dependendo do tipo de operação e do setor. Isso porque além de pagar pelo consumo em kWh, o cliente paga uma parcela fixa, em R$/kW, baseada na potência que reservou junto à distribuidora para atender seus picos de carga.
Para empresas que operam em média e alta tensão como indústrias, galpões logísticos, grandes comércios, hospitais, shoppings qualquer erro na definição da demanda contratada pode gerar:
- Desperdício de dinheiro, pagando por kW que não são usados.
- Multas por ultrapassagem, quando a operação consome mais potência do que o contratado.
- Infraestrutura subdimensionada, causando problemas operacionais e penalidades técnicas (como multas por baixo fator de potência).
Como é feita a otimização de demanda no Grupo A?
O processo técnico normalmente envolve:
Análise do perfil de carga real
Monitoramento detalhado da curva de carga ao longo do tempo. É importante entender quando acontecem os picos e se eles são pontuais ou frequentes.
Identificação de gargalos e desperdícios
Muitas vezes, picos acontecem por falta de planejamento na operação — por exemplo, ligar todas as máquinas ao mesmo tempo ou operar equipamentos ineficientes que poderiam ser substituídos.
Simulações de cenários
Com base em dados históricos, o engenheiro projeta diferentes faixas de demanda para entender o melhor custo-benefício entre pagar por capacidade ociosa e correr risco de ultrapassar.
Gestão ativa da demanda
Implementar práticas para escalonar cargas, evitar picos simultâneos e controlar horários de operação de máquinas pesadas, principalmente nos horários de ponta.
Renegociação contratual
Com o estudo técnico em mãos, o consumidor pode solicitar à distribuidora o ajuste do contrato de demanda,geralmente é possível uma alteração por ano sem penalidades, mas cada concessionária tem regras específicas.
Vantagens diretas para o grupo A
1º – Redução de custos fixos
A empresa paga exatamente pelo que usa, sem reserva exagerada.
2º – Menor risco de ultrapassagem
Monitoramento adequado evita multas desnecessárias.
3º – Mais competitividade
Em setores onde o custo de energia impacta fortemente a margem, otimizar demanda faz diferença no preço final do produto ou serviço.
4º – Operação mais eficiente e sustentável
Muitas vezes, a otimização de demanda também incentiva a troca de máquinas ineficientes e adoção de boas práticas de gestão energética.
No mercado livre de energia faz sentido?
Sim, para quem já está no Mercado Livre de Energia (ACL), a demanda contratada continua existindo porque o contrato de distribuição segue com a concessionária local. Assim, otimizar essa demanda é uma camada a mais de economia, complementando o ganho com a compra de energia negociada.
Resumindo
A otimização da demanda contratada para consumidores do Grupo A é uma estratégia que vai muito além de simplesmente olhar a fatura: é um trabalho técnico, baseado em dados, que pode representar uma economia significativa sem exigir grandes investimentos só exige acompanhamento profissional, medição precisa e visão estratégica.